2006-11-25

Grupo de Teatro do Orfeão reactivado

Um dos objectivos da direcção eleita em 12.04.2006 consistia na reactivação do Grupo de Teatro do Orfeão de Vila Praia de Âncora.
Àrea de actividade muito pujante no passado e que grangeou ao Orfeão importantes prémios e distinções.
O Orfeão na encenação das peças sempre dedicou uma atenção especial aos autores portugueses.
Por isso é com grande júbilo que anunciamos a reactivação efectiva do Grupo de Teatro do Orfeão de Vila Praia de Âncora.
E não podia começar de melhor maneira ao privilegiar Gil Vicente, o fundador do teatro português e o mais importante dramaturgo do nosso país.
O encenador do Grupo de Teatro é o professor, encenador e actor António Neiva, de Afife, que gentilmente acedeu ao convite do Orfeão.
A peça escolhida - Auto da Barca do Inferno (1517) - é um dos três Autos das Barcas, auto de moralidade, constituindo uma alegoria dos vícios humanos.
A cena representa a margem de um rio - o rio do "outro mundo" - o qual por força todos têm de passar, com duas barcas prestes a partir. Uma delas leva ao Paraíso e a outra ao Inferno.
Cada uma das barcas tem o seu arrais na proa: a do Paraíso, um Anjo e a do Inferno, o Diabo e um Companheiro.
Uma série de personagens, acompanhadas dos seus objectos simbólicos, vão chegando à margem do rio: são os mortos que acabam de deixar o mundo.
Aparecem sucessivamente um Fidalgo acompanhado pelo seu pagem que traz um cadeirão; um Onzeneiro (usurário) com uma grande bolsa; um Parvo (Joane); um Sapateiro com um avental e carregado de formas; um Frade trazendo uma rapariga pela mão e armado com uma espada; uma Alcoviteira (Brísida Vaz) carregada com "seiscentos virgos postiços/e três arcas de feitiços"; um Judeu com um bode às costas; um Corregedor com processos ("feitos"), logo seguido por um Procurador carregado de livros; e, a terminar, um homem que acaba de morrer enforcado e que vem ainda com a corda ao pescoço.
Todas estas personagens vão para o Inferno, com excepção do Parvo, que é salvo pela sua simplicidade de espírito e que fica na margem (igual ao Purgatório) esperando a vez de ser admitido no Paraíso.
Após este desfile de pecadores chegam quatro Cavaleiros de Cristo que "morreram em poder dos mouros" e que são imediatamente acolhidos pelo Anjo na barca da salvação (Paraíso).
O Auto da Barca do Inferno é uma evocação de certos tipos sociais do Portugal quinhentista. É também uma sátira feroz contra os grandes e os poderosos - o aristocrata orgulhoso, o frade dissoluto, o juiz corrupto - mas também não poupa os pecadores de condição mais modesta, sendo uma peça de franca comicidade.
O Auto da Barca do Inferno é uma obra prima.

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