2006-11-25

Orfeão patrocinou recital de ópera e zarzuela em Vila Praia de Âncora



O Grupo Vocal Árdora da Associação Lírica da Galiza, com sede na Corunha apresentou hoje, dia 25.11.2006, no Centro Cultural de Vila Praia de Âncora um recital de ópera e zarzuela, com o patrocínio do Orfeão de Vila Praia de Âncora.
O Grupo Vocal, dirigido pelo maestro Fernando Balboa, esteve constituído pelas sopranos Susana de Lorenzo e Teresa Maria Vasquez, pelo barítono Miguel Rivas e pelo pianista Rupert Twine.
A apoiar o pianista esteve o orfeonista Francisco Jorge Presa.
Perante uma assistência interessada e composta essencialmente por coralistas do Orfeão e de outros corais minhotos foram interpretadas as seguintes peças:
"O Barbeiro de Sevilha - Dunque io sun e Una voce poco fa" de Rossini, "La Traviata - Di Provenza" de Verdi, Macbeth - Vieni, t'affretta" de Verdi, "Rusalka - Canción a la luna" de Deborak, "Il Trovatore - Mira, d'accerbe lagrime", de Verdi, "Las Hijas de Zebedeo - Al pensar en el dueño de mis amores", de R. Chapí, "La Canción del Olvido - Junto al puente de la Peña", de J. Serrano, "Marina - Pensar el él", de E. Arrieta, e "La Rosa del Azafrán - Ama, lo que usted me pide..." de J. Guerrero.
Como então referiu o director artístico e maestro do Orfeão, Francisco Presa, este recital insere-se num projecto de aperfeiçoamento da voz, destinado a coralistas e a profissionais que têm necessidade de utilizar prioritariamente a voz no seu local de trabalho, como os professores, evitando esforços, falhas de voz e a tradicional rouquidão.
Procurou-se com este recital dar a conhecer o resultado de um trabalho idêntico desenvolvido pelo maestro Fernando Balboa, de que já beneficiou o nosso Amigo e Cantor Carlos Mendes, e que se prevê possa ser também desenvolvido em Vila Praia de Âncora sob os auspícios do Orfeão.
O maestro Fernando Balboa deslocar-se-á brevemente a Vila Praia de Âncora para avaliar a viabilidade de se arrancar com este projecto.

Grupo de Teatro do Orfeão reactivado

Um dos objectivos da direcção eleita em 12.04.2006 consistia na reactivação do Grupo de Teatro do Orfeão de Vila Praia de Âncora.
Àrea de actividade muito pujante no passado e que grangeou ao Orfeão importantes prémios e distinções.
O Orfeão na encenação das peças sempre dedicou uma atenção especial aos autores portugueses.
Por isso é com grande júbilo que anunciamos a reactivação efectiva do Grupo de Teatro do Orfeão de Vila Praia de Âncora.
E não podia começar de melhor maneira ao privilegiar Gil Vicente, o fundador do teatro português e o mais importante dramaturgo do nosso país.
O encenador do Grupo de Teatro é o professor, encenador e actor António Neiva, de Afife, que gentilmente acedeu ao convite do Orfeão.
A peça escolhida - Auto da Barca do Inferno (1517) - é um dos três Autos das Barcas, auto de moralidade, constituindo uma alegoria dos vícios humanos.
A cena representa a margem de um rio - o rio do "outro mundo" - o qual por força todos têm de passar, com duas barcas prestes a partir. Uma delas leva ao Paraíso e a outra ao Inferno.
Cada uma das barcas tem o seu arrais na proa: a do Paraíso, um Anjo e a do Inferno, o Diabo e um Companheiro.
Uma série de personagens, acompanhadas dos seus objectos simbólicos, vão chegando à margem do rio: são os mortos que acabam de deixar o mundo.
Aparecem sucessivamente um Fidalgo acompanhado pelo seu pagem que traz um cadeirão; um Onzeneiro (usurário) com uma grande bolsa; um Parvo (Joane); um Sapateiro com um avental e carregado de formas; um Frade trazendo uma rapariga pela mão e armado com uma espada; uma Alcoviteira (Brísida Vaz) carregada com "seiscentos virgos postiços/e três arcas de feitiços"; um Judeu com um bode às costas; um Corregedor com processos ("feitos"), logo seguido por um Procurador carregado de livros; e, a terminar, um homem que acaba de morrer enforcado e que vem ainda com a corda ao pescoço.
Todas estas personagens vão para o Inferno, com excepção do Parvo, que é salvo pela sua simplicidade de espírito e que fica na margem (igual ao Purgatório) esperando a vez de ser admitido no Paraíso.
Após este desfile de pecadores chegam quatro Cavaleiros de Cristo que "morreram em poder dos mouros" e que são imediatamente acolhidos pelo Anjo na barca da salvação (Paraíso).
O Auto da Barca do Inferno é uma evocação de certos tipos sociais do Portugal quinhentista. É também uma sátira feroz contra os grandes e os poderosos - o aristocrata orgulhoso, o frade dissoluto, o juiz corrupto - mas também não poupa os pecadores de condição mais modesta, sendo uma peça de franca comicidade.
O Auto da Barca do Inferno é uma obra prima.